Amigos do Fingidor

domingo, 24 de outubro de 2010

Minha pátria é minha língua

Alegoria do crepúsculo
Athos Damasceno Pereira (1902-1975)




Quem andará, dentro da tarde triste e fria,
perlustrando, em silêncio, as aleias de sombra,
e deixando, ao cair de um vago fim de dia,
o apressado rumor de leves pés na alfombra?...

Quem andará, dentro da tarde, triste e erma,
dentro da tarde, de olhos raros e distantes,
enchendo o Parque de volúpia morna e enferma
de dedos longos e de lábios balbuciantes?...

Quem andará, dentro da tarde triste e fria,
quase roçando o espelho azul do lago raso?...
Quem andará dentro da tarde triste e fria?...

Quem andará perto do céu, nesta hora sombria,
desfolhando do azul, sobre as cinzas do ocaso,
grinaldas cor de luar, dentro da tarde fria?...