Amigos do Fingidor

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Estante do tempo

Aspiração
Violeta Branca (1915-2000)




Eu quisera que meu corpo fosse feito de flores...

Que minha carne tivesse
o reflexo de rosas claras ao clarão do luar.
             E assim,
quando chegasses para o calor de meu beijo,
aspirarias no meu hálito o fresco perfume
             de um jardim florido.
Eu quisera que meu corpo fosse feito de flores...

Que meus cabelos tivessem a morna fragrância
                        das relvas tenras.

E assim,
quando cerrasses os olhos
e, sorrindo, afagasses meu corpo ardente e jovem
tuas mãos teriam
a deliciosa volúpia
de acariciarem a primavera...

Eu quisera que meu corpo fosse feito de flores...

E assim,
quando meus braços brancos,
como uma coroa de louros
envolvessem a tua cabeça de deus pagão,
sentirias a sensação embriagante
de seres um fauno novo
perdido numa selva de lírios.