Astrid Cabral
Na preamar do meu sonho
bóia essa baita boiúna
a negra pele inconsútil
rente ao veludo da treva.
Jeito de inócua jibóia a
boiúna se arrasta dócil
no espaço azul do meu sono
mas o ímpeto do bote
fermenta-lhe o corpo enorme
e a qualquer piscar de hora
o porte de pura cauda
sacode o caudal do rio
e a centelha de seus olhos
logo incendeia-me o leito.
Medonha, a qualquer hora
derrama o fel da peçonha
e zás se arremessa às bordas
da cama onde vaga navego
e me afunda nas profundas
de um inferno feito d’água.