Daniel Mazza
O corpo assim como é salso
É doce assim como é gozo
É assim também doloroso
É do homem o cadafalso.
É o estômago empacotado,
É o pênis enrijecido,
É o intestino retorcido,
É o sêmen ejaculado.
É o rim no dorso empedrado,
É a vagina umedecida,
É a vulva aberta, florida,
É o pulmão todo manchado.
É também a axila e a mão,
As viscosas reentrâncias
Que recendem as fragrâncias
Com aroma de excreção.
É também a messalina,
Boca cheia de saliva.
A êmese copulativa
Perfumada de endorfina.
É também a febre ardente,
O frio calor nos ossos.
E o bombear dos remorsos
Do coração fervescente.
É também o suor frio
E os artelhos putrefatos.
O nojo em olhar os pratos
E os enjoos do fastio.
O corpo é um cadafalso
É um gozo que é doloroso
É um limpo que é asqueroso
É um doce que é também salso.
É a morada dos covardes,
Das vísceras traiçoeiras,
Caladas, mas sempre arteiras,
Planejando enfermidades.
É a morada dos suplícios
Dos temores, das fraturas,
Dos tumores, das agruras,
Das tormentas e dos vícios.
É também o combustível
Dos caules e das raízes.
E o sangue das hemoptises
É um adubo imprescindível.
É também a lauta mesa
Dos vermes intestinais,
Das larvas dos funerais:
Empregados da limpeza.
O corpo assim como é salso
É doce assim como é gozo
É assim também doloroso
É do homem o cadafalso.