Fermosos olhos
Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622)
Fermosos olhos, quem ver-vos pretende
A vista dera em preço, se vos vira,
Que inda por perder-vos a sentira,
A perda de não ver-vos não se entende;
A graça dessa luz não na compreende
Quem, qual ao Sol, a vós seus olhos vira,
Que o cego Amor, que cego deles tira,
Com vossos próprios raios a defende.
Não pode a vista humana conhecer
Qual seja a vossa cor, que a luz forçosa
Não consente mostrar tanta beleza;
Se eu, que em vendo-a ceguei, pude ainda ver,
Uma cor vi, porém, cor tão fermosa
Que me não pareceu da natureza.