Zemaria Pinto
Em minha face, onde o tempo se define
nos limites de fantasmas cartográficos,
cicatrizes da distante pubescência
e monturos de poemas sob os olhos,
vagueiam mórbidos vultos de panteras,
pássaros torturados, cavalos mancos.
Pelos flancos do meu rosto pendem pedras
e rasteira capoeira sob espinhos.
Refletida pelo espelho intemporal,
minha cara transmutada em trinta séculos
trilha os rastros incessantes da agonia.
Submergido em meu semblante lacerado,
vejo o tempo como um rio de águas vorazes:
já não sou quem fui ou quem serei ou quando.