Eu
Raimundo Monteiro (1882-1932)
Meus olhos tristes não choram
Mas a minha alma padece...
O orgulho que me enaltece
É como o orgulho de um rei!
Mágoas, que os outros deploram,
Dão-me coragem sem termo...
O meu espírito enfermo
Às tempestades lancei.
Árvore seca do monte
Ao sol e às chuvas morrendo,
Num desespero tremendo
Minore a insânia da dor...
Entre horizonte e horizonte,
Hirto e fatal agonizo...
Enquanto, longe, diviso
A nuvem leve do amor.
Nuvem de gaze tão leve
Que se desfaz na distância...
Como a azulada inconstância
Das ondas que vêm e vão!
E a fantasia se atreve
A colori-la com as tintas
Tão rubramente distintas
Da minha amarga paixão!
De tédio sofro e esmoreço
Como um beduíno sem rumo...
E em vãos temores consumo
O meu orgulho de um rei!
Mas, sempre audaz, reconheço
Que não fiz mal quando a vida,
Numa arrogância atrevida,
Às tempestades lancei!