Soneto a Filida
Xosé Cornide (1734-1803)
Viste, Filida amada, o passarinho
que arando desses ares pelo prado
se emaranha nas linhas, descuidado,
que astuto caçador põe no caminho?
Viste que força faz para soltar-se
e levar aos filhotes os bocados
(parte do coração, filhos amados),
que os deixara no ninho ao remontar-se?
Pois viste a quem te adora mais que a vida,
que, caído na armadilha de um disfarce,
busca aqui, busca ali uma saída
para fugir, podendo assim livrar-se
e aninhar-se seguro no teu seio,
em que chorara atento o próprio anseio.
(Trad. Fábio Aristimunho Vargas)