Amigos do Fingidor

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Estante do tempo

Garça feliz
Quintino Cunha (1873-1943)




Um lago, a cuja flor, nas canaranas,
Impossível, traiçoeiro, repelente,
Um jacaré assustadoramente
Estruge e tange as gárrulas ciganas.

Depois margina a sombra das oeiranas,
Vendo uma garça, sorrateiramente,
Solta-lhe a cauda e um jato de repente
D’água, desfaz-se no ar em filigranas.

E, quando morta a triste garça eu via,
Como um toque ilusório de alegria,
No coração sensível da tristeza,

Rosna perto uma onça e o monstro solta
A embiara feliz, que as asas volta
Para o bonito Céu de azul-turquesa!