Garça feliz
Quintino Cunha (1873-1943)
Um lago, a cuja flor, nas canaranas,
Impossível, traiçoeiro, repelente,
Um jacaré assustadoramente
Estruge e tange as gárrulas ciganas.
Depois margina a sombra das oeiranas,
Vendo uma garça, sorrateiramente,
Solta-lhe a cauda e um jato de repente
D’água, desfaz-se no ar em filigranas.
E, quando morta a triste garça eu via,
Como um toque ilusório de alegria,
No coração sensível da tristeza,
Rosna perto uma onça e o monstro solta
A embiara feliz, que as asas volta
Para o bonito Céu de azul-turquesa!