Amigos do Fingidor

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Estante do tempo

Águas puras... águas barrentas...
Sebastião Norões (1915-1972)





Velho Madeira a deslizar profundo
por entre margens de vermelho e verde.
Meu velho rio – amálgama de águas
verdes e brancas e vermelhas e pretas.

Que escureza e que espessura fluem
dessa caudal eternamente enorme
na estação da grande cheia.

Em meio às canaranas e árvores, as barrancas descendo
e as garças jangadeando ilhotas ambulantes.
E as madeiras trazidas pelo líquido amarasmado,
– símbolo andejo a relembrar seu nome –

Velho Madeira a digerir molente
bastas terras caídas.
Semelhando, no andar moroso e langue,
a jibóia depois que a presa tem.

Que leveza e que beleza fluem,
nas suas águas de esmeralda e opala,
na época da seca.

Não mais troncos descendo, nem barrancos boiando,
águas pequenas, num correr suave,
gaivotas mostrando a flor branca das praias
e a pureza hospedando na liquidez de sonho.