Da prisão
Adrienne Rich
Sob minhas pálpebras outro olho se abriu
e olha cruamente
a luz
que penetra vindo do mundo da dor
mesmo enquanto durmo
Fixamente ele encara
tudo que eu enfrento
e mais
ele vê os cassetetes e as coronhas
levantando e baixando
ele vê
o detalhe que a TV não mostra
os dedos da polícia feminina
esquadrinhando a boceta da jovem prostituta
ele vê
as baratas caindo dentro da panela
onde preparam carne de porco
no presídio
ele vê
a violência
encravada no silêncio
Este olho
não é para chorar,
sua visão
deve ser nítida
apesar das lágrimas em meu rosto
seu objetivo é a lucidez
nada deve ser esquecido
(Trad. Olga Savary)