(Poema feito a partir de um quadro do artista plástico Turenko Beça)
De longe como Matisse
Que a desnudando vestisse
Ela revela a natureza
Que a esconde por inteiro
E a esconde por inteiro
Do olho que a devassa:
O vão desdobrado em quilha
Recoberto por limalha
De luz é sua textura
Que ao toque se adivinha
Como as bordas da pupila
Refletindo água-marinha
Tem a aparência furtiva
De uma fruta adocicada
Daquela que nos convida
Na a comer – a olhá-la.
De luminosos cristais
Sua curvatura se veste:
O gosto de qualquer fruta
Nela é as dobras da pele
É fruta de carne e osso
Silêncio sonho e medula.
É fruta de mil desejos
Na língua mais que na gula.
É uma paisagem de dunas
Com casulos emborcados.
É uma ópera intestina
De conchas no alagado
É uma onda sem mistério
Tirando arestas da areia.
É uma maçã que mordida
O baixo ventre incendeia
É o ovo da serpente
Como que moldado em pedra.
É a cúpula do teatro
Na sua forma geodésica
No mais não é uma cuia
Arquitetada por Gaudí.
É uma cuia (mas nativa)
De tacacá e açaí.
Que uma bunda não é nunca
O silêncio de uma tela:
É uma vontade profunda
De se perder dentro dela.