Sonetos autobiográficos 1
L. Ruas (1931-2000)
Fecundar o próprio sêmen sem ter medo
De em si mesmo dar o ser ao monstro azul.
Escalar o próprio abismo desmedido
E sorrir a cada passo dado em falso.
Desmembrar a tessitura do mistério,
Dissecar a óssea face em frente ao espelho
Estancando a imagem tola no momento
Da mentira venerável — prece infame —...
E depois compor de novo a melodia,
Restaurar as cores todas distendidas,
Refazer o mesmo poema delicado
E ficar paradamente na vidraça
Contemplando a chuva grossa e intermitente
Escorrendo em borbotões pelas sarjetas.