O torso arcaico de Apolo
Rainer Maria Rilke (1875-1926)
Não conhecemos sua cabeça inaudita
onde as pupilas amadureciam. Mas
seu torso brilha ainda como um candelabro
no qual o seu olhar, sobre si mesmo voltado
detém-se e brilha. Do contrário não poderia
seu mamilo cegar-te e nem à leve curva
dos rins poderia chegar um sorriso
até aquele centro, donde o sexo pendia.
De outro modo, erguer-se-ia esta pedra breve e mutilada
sob a queda translúcida dos ombros.
E não tremeria assim, como pele selvagem.
E nem explodiria para além de todas as fronteiras
tal como uma estrela. Pois nela não há lugar
que não te mire: precisas mudar de vida.
(Trad.: Paulo Quintela)