Zemaria Pinto
Território traduzido
em ícones improváveis
no céu inferno diário
O olhar do Cristo cubista
impõe-se ao campo do olhar
de quem navega por cá.
O Cristo dilacerado
nosotros desesperados
a crucial via-crúcis
refletida nas palavras
e nos gestos refletida
num movimento a um só tempo
espiral e circular
Sob o Cristo comungamos
a rotineira heresia
da fome transfigurada
O homem sentado ao bar
andrógino olhar vazado
retrato da solidão
combina ametista e fogo
angústia, fuga e paixão.
Mais acima a ironia
das cúpulas invertidas
cópulas apodrecidas
símbolos disseminados
pela pálida parede
Em silêncio nos quedamos
em provisório transporte
a míticos promontórios
Noutra margem, parelhados
herméticos aparelhos
conectam a casa ao mundo
sob os olhos de um guerreiro
identidade e desejo
da implausível liberdade.
Ele olha para o Cristo
o Cristo para ele olha
em algum ponto infinito
esses olhares se chocam
No céu inferno diário
os ícones se traduzem
na improvável geografia