Coração
Jonas da Silva (1880-1947)
Meu coração é um velho alpendre em cuja
Sombra se escuta pela noite morta
O som de um passo e o gonzo de uma porta
Que a umidade dos tempos enferruja.
Quem vai passando pela estrada torta
Que leva ao alpendre, dessa estrada fuja!
Lá só se encontra a fúnebre coruja
E a Dor, que à prece o caminhante exorta.
Se um dia, abrindo o casarão sombrio,
Um abrigo buscasses contra o frio
E entrasses, doce criatura langue,
Fugirias tremente, vendo a um lado,
A Crença morta, o Sonho estrangulado
E o cadáver do Amor banhado em sangue!