O Raio Verde
Octavio Sarmento (1879-1926)
Os mares a sulcar, é vezo antigo, quando
A nau serena vai e o sol abrasa o poente,
Deter-se junto à borda, emocionada, a gente
Um veio de esmeralda entre as nuvens buscando...
Das ondas ao marulho, eu também, docemente
Dos sonhos meus seguindo o fantasioso bando,
Claros céus perscrutei largos dias, pensando
Fitar a doce luz que se esvai num repente.
E hoje, afinal, chegado ao termo da jornada,
Hoje que, enfim, a nau o último porto alcança,
Minh’alma o desengano horrível trás prostrada,
E o triste coração de mil pesares junca:
Ai, nunca pude ver o signo da Esperança,
Ai, nunca pude ver o Raio Verde, nunca!