Maria José Hosanah
Acordou ferida
como o pássaro que rasgou as próprias asas
e olhava o céu, chorando o grito.
O grito que só era ouvido
pela estranheza do ar, da água.
Do ar, da água, que nunca falavam
ao pássaro,
ao pássaro das asas feridas
que acordava
em dor.
Acordou ferida
como o pássaro que sangrava as duas asas
e que veria a dor e a morte, menos sofridas
se ouvisse um grito, um mesmo som.
E ao pássaro ferido, a quem restava
preencher o espaço com seu próprio grito,
na esperança de sentir o mundo
igual à sua dor,
ficou um som,
o canto.
O mais belo canto
de recriação.