Amigos do Fingidor

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Estante do tempo

Interlúnio
Maranhão Sobrinho (1879-1915)

Entre nuvens cruéis de púrpura e gerânio,
rubro como, de sangue, um hoplita messênio
o sol, vencido, desce o planalto de urânio
do ocaso, na mudez de uni recolhido essênio...

Veloz como um corcel, voando num mito hircânio,
tremente, esvai-se a luz no leve oxigênio
da tarde, que me evoca os olhos de Stephanio
Mallarmé, sob a unção da tristeza e do gênio!

O ônix das sombras cresce ao trágico declínio
do dia que, a lembrar piratas do mar Jônio,
põe, no ocaso, clarões vermelhos de assassínio...

Vem a noite e, lembrando os Montes do Infortúnio,
vara o estranho solar da Morte e do Demônio
com as torres medievais as sombras do Interlúnio...