Zemaria Pinto
leve feito uma asa-delta
a moça atravessa a praça
na tarde lavada em gris
a moça não anda, plana
vestida de azul-turquesa
nas asas dum bem-te-vi
(a chuva não molha a moça
que flutua sobre a praça
espargindo girassóis)
sons e cores arquitetam
um carnaval inquieto
ao tênue passar da moça
súbito, a escuridão
invade a praça de chumbo:
evola-se a moça em nuvens
(a moça deixa no ar
uma estranha melodia
de perfumados silêncios)