Bosco Ladislau
Saúdo-te por último,
meu caro amigo. Antes que regresses
novamente ao teu escuro quarto de pensão,
arrebentado, cego e traído
pela estúpida moral de todas as filosofias.
Eu venho de bares e mercados
tristes e impenetráveis
como as raízes de meu cérebro.
A vida dos encarniçados
que aí se exilam e se embriagam
é tão cheia de tragédias
que me faz dar gritos de agonia.
Por isso tenho repulsa à tranqüilidade
e a canções de amor.
Não tenho paz, senão quando vejo
a fome ausente de um operário
e um sorriso obstinado
na boca de uma mulher grávida.
Fora disso sou intratável
rebelde
louco
sem rumo;
vivo e cruzo a cidade
nas noites que se erguem sedutoras
como o sal terrestre.
No entanto, amigo,
sou como tu és: prefácio decadente
de uma raça extinta pela necessidade.
Ah, se morrêssemos de fartura
numa noite de domingo!
Entretanto, estamos presos à vida
que é a arte do impossível. Por ela
nos tornamos irmãos
entre jardins de papoulas.
Viva e claramente
não mais nos assustamos
quando dizem: “LO AMARGO DE LA TIERRA
CANTA ENCIMA DE LOS PUEBLOS!”,
porque temos
um relincho selvagem que se multiplica
sempre e sempre
no hoje e no amanhã;
porque somos a última geração que luta.
Nós, o ácido da Terra,
nascidos da discórdia
entre Deus e o Diabo.