Zemaria Pinto
vida renovada em vida
para que a vida prossiga
na ritual comunhão
usina cotidiana
de metamorfoses múltiplas
a cozinha se limita
com o lixo e a roupa suja
na vulgar economia
do mais reles dia-a-dia
substantiva, ela nasce
de exercícios ordinários
de alta imaginação
onde peixe não é peixe
tomate não é tomate
e feijão não é feijão
antes, são corpos mortos
que se transmudam aos poucos
na linha de produção:
saladas, sopas, grelhados
escabeches, empanados
molhos, cozidos, guisados
a mesa posta é uma painel
de plástica arquitetura
cores frias, cores quentes
irradiando beleza
traduzida nas papilas
em aromas e sabores
a vida prossegue vida
renovada diariamente
na ritual comunhão