O Junco e o cipreste
D. Guillermo Gana (datas desconhecidas)
Ao lúgubre cipreste em voz plangente
O junco melancólico dizia:
– Que triste sorte a minha!
Ergui-me tão alegre e tão contente
Quando a alvorada vinha!
E já sem força e já sem energia
Curvo a cabeça... E lânguido e sozinho
Sinto que vou morrer. Ah! por que a sorte
Dando-te vida, só me guarda morte?
E o cipreste dizia:
– A dor foi sempre eterna,
Mas a fortuna só perdura um dia!
E o junco respondia:
Em ti simbolizaram a tristeza,
Em mim somente o anelo
Dos que no amor esperam.
Como é que nunca dobras a cabeça,
Nem a raiva das chuvas e dos ventos
A cor sequer te alteram?
Daqueles que de tudo desesperam
Para lembrar a lúgubre aflição,
Só existe uma cor, disse o cipreste...
E se jamais tu viste
Curvar minha folhagem para o chão...
É que desprezo o mundo baixo e triste
E mergulho a cabeça n’amplidão.
(Trad. Castro Alves)