Amigos do Fingidor

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Estante do tempo

A Ronda dos cisnes
Américo Antony (1895-1970)

A memória de Heliodoro Balbi
O lago acorda. E a lua se insinua
Entre o palmar que aljôfares desata.
Há um silêncio de cisma na alva lua...
Passam os cisnes... são gôndolas de prata.

O lago é rosa. A aurora ainda mais nua
Abre as carnes de anêmona ao sol louro...
Há um fervor de volúpia que flutua...
Centelham praias... passam os cisnes de ouro...

O lago é rubro. O sol no poente escalda.
É a glória em gozo extremo, ardente exangue...
Safira é o céu. A selva é de esmeralda.
A água é rubi... passam os cisnes de sangue...

Lago violeta – há uma queixa na bruma
Da distância na mágoa e na ansiedade...
É o crepúsculo abrindo em cada espuma
O lilás... passam os cisnes da saudade...

O lago dorme... mas, ferido de açoite
Das trevas, que os relâmpagos percorrem...
Os cisnes voltam negros como a noite,
Cantam na solidão da noite... e morrem.