Amigos do Fingidor

sábado, 14 de março de 2009

Poesia em tradução

Soneto CXXXII
Francesco Petrarca (1304-1374)

Se amor não é, qual este sentimento?
Mas, se é amor, por Deus, que coisa é tal?
Se boa, por que o efeito assaz mortal?
Se má, por que é tão doce este tormento?

Se quero arder, por que choro e lamento?
Mas se não quero, o lamentar que val’?
Ó viva morte, ó deleitoso mal
Que manda em mim sem meu consentimento?

E tolo é lamentar-me, se o consinto.
Entre ventos contrários, frágil barca,
Me encontro em alto-mar, sem ter governo.

De erros tão cheia e de saber tão parca,
Que eu mesmo já não sei o que mais sinto,
A tremer no verão e a arder no inverno.

(Trad. Ivo Barroso)