Amigos do Fingidor

segunda-feira, 16 de março de 2009

Estante do tempo

Contrastes
Elias Gavinho (1895-1935)

Tristes crianças: – sempre abandonadas
Vagueiam pobremente pelas ruas,
Uns trapos encobrindo as pernas nuas,
Ao vento e ao frio quedam regeladas.

Quando a fome trouxer já definhadas
Em vingança cruel as frontes suas,
Quando não virem mais a luz das luas
E o róseo despontar das alvoradas,

Dirá a humanidade: – triste sorte,
Vaguear no mundo, errantes, sem um Norte
Sob as mil desventuras da matéria!...

Ó Deus, vem ver quão triste é a térrea vida:
Se uns vivem na opulência enternecida
Outros desaparecem na miséria!...