A procissão do tempo
Mady Benzecry (1933-2003)
A procissão do tempo passa, triste,
silenciosa, calma, inacabável.
Das horas o cortejo interminável,
se arrasta para o que não existe.
Por que o caminhar já não desiste
o Amanhã eterno, inatingível?
Que glórias, que prazer inteligível,
que força, os seus clarões impele e assiste?
E a procissão caminha sem cessar...
Dias exaustos, Horas tão cansadas,
pelos Minutos e Segundos amparadas
seguem o trajeto sem poder parar.
A que este infortúnio comparar?
O fim que alcança no princípio está,
se começa, jamais acabará!
Será eterno, ou longo caminhar?
E, já cansados desta sucessão,
soluçam os Dias e esbravejam tanto,
que a Natureza se desfaz em pranto
e acompanha a peregrinação.
Mas não suporta tanta provação:
Ela é perfeita! E a trajetória imensa,
embotaria a sua beleza intensa.
Desiste. Fica. E os dias lá se vão...
E passam meses e anos rastejantes
que o tempo louco a persistir obriga,
e já demente, sem querer, castiga
a humanidade com seus pés errantes.
Calça-lhe os sonhos, corta-lhe os instantes,
tudo devasta em seu grande furor,
arrasta ânsias, leva-lhe o amor,
no desfilar das procissões clamantes...
A humanidade toda já só pranto
tenta deter a marcha incontrolável,
ousa enganar o tempo inabalável,
que lhe empalida as faces e extingue o encanto.
Mas, na tremenda luta ela esmorece tanto
que morre. E os dias continuam indo,
os amanhãs eternos vão surgindo
cobrindo o Ontem com seu negro manto.
Nada mais fica... Tudo se esgotando...
Dias iguais vão se sucedendo,
o que tem vida está sempre morrendo,
e o que está morto, em pó se transformando.
O mundo inteiro o tempo vai levando!...
Aonde irá? Para onde se dirige?
É a pergunta que hoje nos aflige
enquanto imperturbável o Tempo vai passando!...