Lina Tâmega Peixoto
Quando a casa morava sozinha
e bandos de mansa alegria
andavam pela tarde,
a menina moía a floresta
nos grãos de mostarda,
colhia o musgo macio do mormaço,
punha a chuva na moringa
e descalçava o coração.
Assoprava as luzes do quarto
e os frutos de louça na tigela
endureciam a noite.
Lia em voz alta o livro
para que o corpo das palavras
lhe desse forma de moça.
Ao romper as vigílias da fala
cantava a carnadura da alma.