Zemaria Pinto
Meu velho espelho noturno
meu companheiro de insônia
inda vês a mesma face
de outros tantos anos findos
nesta que se te apresenta
com as estrelas da manhã?
– Não mais há luz, posso ver
na noite que se derrama
dos girassóis de teus olhos
e a revolta cabeleira
ressonha revoluções
nos arredores da calva.
– No canto esquerdo da boca
uma rubra flor de herpes
afina inda mais teus lábios.
Dentes a menos há muitos
em tua boca emoldurada
por essa pífia papada.
O silêncio da parede
reflete apenas a ausência
daquele que eu nunca fui.
Na madrugada vazia
ouço rasgar meu soluço
ressonando a solidão.
Em qual Cecília, meu rosto,
ficou meu espelho perdido?