Amigos do Fingidor

domingo, 31 de janeiro de 2010

Minha pátria é minha língua

Vou morrendo devagar

Domingos Caldas Barbosa (1738-1800)


Eu sei, cruel, que tu gostas,
Sim gostas de me matar;
Morro, e por dar-te mais gosto,
Vou morrendo devagar:

Eu gosto morrer por ti;
Tu gostas ver-me expirar;
Como isto é morte de gosto,
Vou morrendo devagar:

Amor nos uniu em vida,
Na morte nos quer juntar;
Eu, para ver como morres,
Vou morrendo devagar:

Perder a vida é perder-te;
Não tenho que me apressar;
Como te perco morrendo,
Vou morrendo devagar:

O veneno do ciúme
Já principia a lavrar;
Entre pungentes suspeitas
Vou morrendo devagar:

Já me vai calando as veias
Teu veneno de agradar;
E gostando eu de morrer,
Vou morrendo devagar:

Quando não vejo os teus olhos,
Sinto-me então expirar;
Sustentado d’esperanças,
Vou morrendo devagar:

Os Ciúmes e as Saudades
Cruel morte me vêm dar;
Eu vou morrendo aos pedaços,
Vou morrendo devagar:

É feliz entre as desgraças,
Quem logo pode acabar;
Eu, por ser mais desgraçado,
Vou morrendo devagar:

A morte, enfim, vem prender-me,
Já lhe não posso escapar;
Mas abrigado a teu Nome,
Vou morrendo devagar.