Perdoa se te vou assim buscando
Pedro Salinas (1892-1951)
Perdoa se te vou assim buscando
tão torpemente, dentro
de ti.
Perdoa se te dôo, alguma vez.
Mas quero arrancar de ti
teu melhor tu.
Este que não te veste e que desvendo,
nadador por teu fundo, preciosíssimo.
E apanhá-lo
para o erguer bem alto como faz
a árvore com a luz última
que arrebatou do sol.
E em busca desse tu
ao alto então virias.
Para chegar ali
subindo sobre ti, como te quero,
tocando agora o teu passado apenas
com as rosadas pontas de teus pés,
o corpo todo tenso, já ascendendo
de ti para ti mesma.
E ao meu amor então responda
a nova criatura que tu eras.
(Trad. Ivo Barroso)