Amigos do Fingidor

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Estante do tempo

Às dez horas de uma noite triste
Mady Benzecry (1933-2003)


NÃO TE DEMORES MEU BEM!...
Minhas mãos ainda estão trêmulas
das carícias que te deram...
Ainda se estendem quentes, delirantes,
ainda se crispam dos anseios que tiveram
ao maltratar-te a pele...
Chamam-te ainda nervosas, implorantes
mas, já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste...

NÃO TE DEMORES, MEU BEM!...
Meus lábios permanecem entreabertos,
como se ainda esmagados contra os teus,
bebessem teu sangue nos desertos.
Ainda estão úmidos e sentem o jogo intenso
que tua boca transportada de desejo,
derramou na avidez de um infindo beijo...
Mas já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste...

NÃO TE DEMORES MEU BEM!...
Meu corpo ainda está como o deixaste,
morno... todo marcado da volúpia
com que o amaste...
No entanto, ainda deseja como um louco
languidamente entregar-se, e pouco a pouco,
matar a sede deste amor que não mataste!
Mas, já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste!...