Amigos do Fingidor

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A flor do pântano

Michele Pacheco


A noite finda
na alvorada sei que está lá
envolta pela névoa fina e gélida
nasceu, cresceu na lama negra
dentre árvores
cujas raízes formam esculturas
num palácio de troncos retorcidos
gótico, exótico, torpe
passou pelas quatro estações
as tempestades de verão
o inverno rigoroso
viu tudo em volta ser destruído.

Quem a vê
deixa-se levar pela cor rosa cintilada
pelas pétalas aveludadas
pelo seu doce perfume
sua beleza delicada sussurra:
– Venha mim... Venha a mim...
homens, cobiçando possuí-lá
não percebem
a flor do pântano criou espinhos
para defender-se de vermes rastejantes
e o perfume que exala é venenoso
e o matará lentamente.