Amigos do Fingidor

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tocaia

Bruna Lombardi


Que o amor nos possuísse
no meio de um descampado
num jogo que não tem regra
nem pecado

Numa tortura lenta
com ritual absoluto
que o amor nos possuísse
doce e bruto

Que houvesse fuga e corrida
e grito agudo na boca
que a dança fosse selvagem
e louca

Com maldade instintiva
guerra de unha e dente
todo impulso desmedido
corpo quente

Depois na hora do cerco
firmes os cinco sentidos
vem o animal e se envolve
atraído

Pra que dure mais o jogo
ora foge ora se entrega
se joga se abre provoca
depois nega

Cúmplice do adversário
de manso se defendendo
vai pouco a pouco à cilada
cedendo

Corpo todo se espalhando
no meio do descampado
na luta quem não domina
é dominado

E aí segura a corrente
manseia cavalo bravo
na luta quem não é senhor
é escravo

Chegada a hora da posse
o momento mais violento
novilha presa arqueia
sem movimento

No meio do seu combate
foi afinal possuída
e geme pra essa morte
melhor que a vida

Se enrosca sentindo o gosto
de ter sido capturada
sabendo que foi vencedora
e derrotada

E depois de tudo resta
um cansaço ainda melhor
sorriso dentro do corpo
fora o suor

Que o amor nos possuísse
com sensação de perigo
no meio do descampado
como a dois inimigos.