Amigos do Fingidor

sábado, 25 de julho de 2009

Poesia em tradução

Se
Rudyard Kipling (1865-1936)


Se podes calmo estar entre homens que se agridem,
a cabeça pendendo – e disso te acusando;
se podes crer em ti quando os outros duvidem,
mas concordar em que prossigam duvidando:
se podes esperar, sem que a espera te canse,
ou mintam sobre ti – sem que mintas, no entanto,
ou, sendo odiado embora, o ódio te não alcance,
e não pareças – inda assim – ou sábio, ou santo;

se sonhas, mas não é por sonhos dominado;
se pensas, mas não vês, só nisso, o alvo da mente;
se o Triunfo, ou o Desastre, encontras ao teu lado
e tratas esses dois tartufos igualmente:
se disseste a verdade – e a pode ver torcida
em ardil de impostor; se rotas, em pedaços,
as coisas por que tu sacrificaste a vida,
curvado as reconstróis com os teus doridos braços;

se podes arriscar tudo o que é teu – mas tudo –
num lance só – cara ou coroa! – e, num momento,
perder, e começar de novo, e ficar mudo,
sem uma queixa, uma palavra de lamento:
se podes obrigar teu corpo, na verdade
exausto em carne e em alma, a erguer-se e a te servir,
quando em ti nada houver senão tua Vontade
que não se rende e lhe comanda: “Resistir!”;

se te ouvem multidões e a virtude é contigo,
ou frequentas os reis e o bom-senso te guia;
se não podem ferir-te, o amigo ou o inimigo,
e se, confiando em ti – de mais, ninguém confia:
se, de cada minuto, enches cada segundo
com um passo para a frente em luminoso trilho,
então eu te direi que dominas o Mundo
e direi muito mais: que és um Homem, meu filho!

(Trad. Gondin da Fonseca)