Amigos do Fingidor

sábado, 18 de julho de 2009

Poesia em tradução

O primeiro degrau
Kostantinos Kaváfis (1863-1933)


Foi a Teócrito queixar-se um dia
Eumene, poeta ainda jovem:
“Faz dois anos que escrevo e até agora
compus apenas um idílio.
Esse, o meu único trabalho pronto.
Pobre de mim! Pelo que vejo, é alta,
deveras alta, a escada da Poesia.
Estou no primeiro degrau: jamais,
infeliz que sou, chegarei ao topo.”
“Essas palavras”, respondeu Teócrito,
“são um despropósito, blasfêmias.
Se estás no primeiro degrau, cumpria
te sentires feliz e envaidecido.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena glória o que fizeste.
Do primeiro degrau da mesma escada
está bem distante o comum das pessoas.
Para pisar esse degrau de ingresso,
necessário é que sejas, por direito,
cidadão da cidade das ideias –
um título difícil: raramente
fazem-se ali naturalizações.
De quantos na sua ágora legislam,
aventureiro algum pode zombar.
Chegar onde chegaste não é pouco,
nem é pequena glória o que fizeste.”

(Trad. José Paulo Paes)