Utas
Raimundo Monteiro (1882-1932)
Morre, em surdina, a toada
De uma viola magoada...
– Penso na minha Amada.
Do alto a lua irradia
Sobre a selva sombria...
– O luar parece dia.
O rio, amplo e sonoro,
Flor, sabe que eu te adoro:
– À sua margem choro...
As árvores do caminho
Curvam-se cheias de ninhos...
– E nós passamos sozinhos.
Sobe, cansada, a ladeira
Da montanha, a pegureira...
– Imagem da vida inteira.
O meu jardim, ao sol poente,
Parece que fica doente...
– É como o sonho da gente.