Amigos do Fingidor

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sonetos do entardecer

Virgílio Maia

I

Um azul muito antigo apascentava
os cabritinhos perto do curral.
E um vento de cinzel, mãos de Chagall,
os cabelos das nuvens desgrenhava.

Era o meu bisavô quem aboiava
à tarde que caía sertaneja?
Quem era, então, que qual numa peleja
cavalgava as vogais com voz tão cava?

Tudo resseco. A pedra reluzente
é lítica seara adormecida,
mostrando ali milênios de mormaço.

Vem de novo o aboio, agora rente
ao beiral de uma casa demolida,
cortando os ares qual se fora de aço.


II

Só sei que havia uns pássaros passando,
um menino soltando a sua arraia
e vento, muito vento, que na praia
algum vento é de estar sempre soprando.

Tranquilo entardecer de um verão brando:
miro, sem pressa, o mar que não tem pressa
e vejo, tão bonita!, também essa
ave marinha branca, vez em quando.

Toda a tarde se faz em mil carinhos,
nesta areia que brinca nos meus pés,
me apagando pegada após pegada.

Vem agora, não sei por quais caminhos,
de que sutis veredas através,
um cheiro agreste de castanha assada.