Guitarras desconjuntadas
Kóstas Karyotákis (1896-1928)
Somos guitarras desconjuntadas
por onde o vento, ao passar, desperta
versos, sons de afinação incerta,
nas cordas, cadeias penduradas.
Somos dedos, antenas levantadas
para o caos, incrivelmente alerta.
Suas pontas, ao infinito abertas,
ressoam, mas rompem-se no nada.
Somos difusas sensações vadias
sem esperança de encontrar-se. Temos
nervos em que a natureza se extravia.
No corpo, na memória padecemos.
As coisas nos repelem e a poesia
é o refúgio a que não ascendemos.
(Trad. José Paulo Paes)