Amigos do Fingidor

sábado, 15 de maio de 2010

Poesia em tradução

Guitarras desconjuntadas
Kóstas Karyotákis (1896-1928)



Somos guitarras desconjuntadas
por onde o vento, ao passar, desperta
versos, sons de afinação incerta,
nas cordas, cadeias penduradas.

Somos dedos, antenas levantadas
para o caos, incrivelmente alerta.
Suas pontas, ao infinito abertas,
ressoam, mas rompem-se no nada.

Somos difusas sensações vadias
sem esperança de encontrar-se. Temos
nervos em que a natureza se extravia.

No corpo, na memória padecemos.
As coisas nos repelem e a poesia
é o refúgio a que não ascendemos.



(Trad. José Paulo Paes)