Amigos do Fingidor

domingo, 2 de maio de 2010

Minha pátria é minha língua

Chão de estrelas

Orestes Barbosa (1893-1966)



Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje quando do sol a claridade
Forra meu barracão sinto saudade
Da mulher, pomba-rola que voou

Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Parecia um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros malvestidos
É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão