Hélio Pellegrino (1924-1988)
Se o som do arado em tudo afeito a arar-te
permito que emudeça, é por querer-te
a terra que és alheia, e por amar-te,
ao invés de semear-te, fico a ver-te.
E só por ver-te apalpo o que seria
o lavrar este campo, esta colina,
coroada de orvalho onde, menina,
és mulher de anca rude e lábio frio.
Deixo-te ser quem és, e o deixo tanto,
e com tanto e contido sentimento
que a madura fluência do meu pranto
é o salário do meu contentamento.
E fico a olhar-te, e neste olhar seguimos:
e estando separados nos unimos.