Amigos do Fingidor

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O navio

Renato Augusto Farias de Carvalho




Às vésperas e nas tardes longas
cobre-me a fantasiosa imagem do
embarque.
Estou pronto.
O sonho figurado é entregue ao barco dogmático.
Taciturnos gestos de partida e viemos nós,
rio-e-mar...
espalmados na mala e na cabeça pueril
a fábula romanesca do convite: te vejo, grande
cidade, metáfora enigmática ao encontro de
todos os machucados. E contorno a difícil messe
dos tempos sem compasso. Repetem, em mim,
o oráculo e as sílabas do primeiro fado.
Meu navio? Naufragou?
Sobrevive a nostalgia do cais refletindo, em mim,
o entardecer do contrito mar.
E do Negro – rio que ficou,
emoldurando contornos
da minha terra.