Rafael Marques
A ausência de som
nesta sala de hospital não emudece
a imensa flama de ternura
que se derrama do teu olhar.
Uma palavra se desprende
da boca; trará,
inevitavelmente,
misteriosa melodia...
Faz o velho vento naufragar.
Era o que Ele queria:
dilapidar travo tronco
com golpes bruscos
de martelo
e o cinzel do belo
(e da despedida)
abrisse um diamante:
tua vida.
A vida que te habitava...
Já se inundava do rio
que, numa clara manhã,
convidou-te a navegar
em seu leito de estrelas;
mas, por vezes, retornas,
imutável o teu rosto,
na travessia dos anos,
põe a mão no meu ombro.