Inácio Oliveira
O amor, para fazê-lo
É preciso muito, muito tempo;
Pouca, quase nenhuma pressa
E uma certa habilidade mística.
É preciso ter mãos leves e lésbias
Pousadas feito pássaro
Sobre o verão da carne
E ousar um determinado voo.
É necessário um divertimento
Dos ossos e dos músculos,
Algo como uma partida de futebol
Ao entardecer da vida.
É preciso uma certa displicência,
Um completo desprendimento
De todas as coisas;
Que nada no mundo interfira no amor.
É preciso um completo silêncio,
Um silêncio vegetal anterior às palavras,
Um silêncio de dois antigos olhares que se entrecruzam
Ouvindo o sangue nas veias correr.
É preciso redescobrir aquela antiga
Prática perdida pelos homens
De fazer uma rosa se abrir
Dentro dos olhos de uma mulher.