Clotilde Tavares
Para Allen Ginsberg
& eu
que uivei como um cão danado pelas esquinas da década de 60
& eu
que me encharquei de drogas & sexo & rock nos inferninhos da década de 70
& eu
que me banho de álcool & solidão nas páginas da década de 80
continuarei sendo aquela poetisa maldita meio beat meio louca meio rock meio boba & tão necessária quanto uma garrafa vazia de refrigerante ou um copo de papel usado?
continuarei derramando o meu sexo no asfalto das avenidas ensopadas de sangue & vidros partidos?
continuarei dividindo o meu rosto nos retrovisores dos táxis & xerocopiando o meu corpo em cada farmácia da esquina?
& se não tivesse feito tudo isso
& se não fizer tudo isso
vale a pena
ainda
estar viva?