Sonetos autobiográficos - 8
Luiz Ruas (1931-2000)
O cais está deserto. A noite é vasta.
O vento sopra fino. As águas negras
Paradas se repousam das fadigas
De naves que partiram soluçantes.
As luzes tremeluzem cochilantes
Dos negros postes magros penduradas.
Do guarda, os passos lerdos, sonolentos,
Acordam surdos ecos nas distâncias.
E a sombra do seu corpo se projeta
No longo tombadilho do silêncio
Escura e densa como ponte armada
Do cais para o silêncio da água negra,
Do fim para o começo de outro dia
Do pranto de quem fica ao de quem parte.