Amigos do Fingidor

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Estante do tempo

Horas roxas
Aníbal Teófilo (1873-1915)


É nas horas como esta, em que o céu dolorido
De uma cinza-lilás impalpável se abruma,
Que mais me abate e alenta este sonho em que lido
A finas frechas de ouro e carícias de pluma.

É quando mais me oprime a saudade da espuma
Rósea, vida e fulgor de um semblante querido...
Do nosso extremo adeus, e do passado de uma
Vez para sempre agora em nuvens más perdido.

Horas que traduzis em delírios enfermos:
– Amplos quadros boreais, luares branqueando lousas,
Cortejos de ilusões fantasmeando por ermos...

Jamais vos maldirei, doces horas tiranas,
Que fazeis vir à luz a mais santa das cousas,
– O pranto, a prova real das fraquezas humanas.