Michelangelo Buonarroti (1475-1564)
Quisera, ó Deus, querer o que não quero.
Por entre o coração de gelo e o fogo
Um véu de sombra cai, que esfria logo
A chama e faz meu cântico insincero.
Senhor, te amo com a boca, e desespero
De não sentir o amor no peito; e rogo
Que a tua graça seja o desafogo
Desta alma presa de um orgulho fero.
Rasga esse véu, Senhor! Rompe esse muro
Que com sua dureza me retarda
O sol de tua luz, no mundo extinta.
Manda o predito lume do futuro
À tua bela esposa, a fim de que eu arda
E na certeza desse amor te sinta.
(Trad. Ivo Barroso)