Ódio
Octavio Sarmento (1879-1926)
Odiar, como eu te odeio, é uma coisa horrenda!...
É teres ante o olhar, em mágicos fulgores,
De um pélago sombrio a garganta estupenda,
Oculta sob um véu de rosas multicores:
Chegas-lhe à negra borda, incauto, pela senda
Que te indico a sorrir, remordendo-me em dores,
Pela senda fatal que a vingança tremenda
Abriu à tua vista, entre aromas e flores.
Mas, bruscamente, falha o solo aos pés e cais...
E eu te escuto rolar, entre pinchos mortais,
Por sobre a rocha viva, a humosa rocha vedra...
E agora, do alto, a rir de um riso mau de hiena,
Dobrado sobre o abismo, eu fito, na geena,
Trapos de carne em sangue, ao léu de pedra em pedra!