A ilha
Giuseppe Ungaretti (1888-1970)
Numa orla onde era perene tarde
De selvas antigas, acesas, absortas,
Se adentrou
E súbito ouviu rumor de plumas
Que se soltara do estrídulo
Pulsar das águas tórridas,
E um espectro (enlanguescia
E refloria) viu:
Ao retornar viu
Que era uma ninfa: dormia
De pé abraçada a um olmo.
Em si de simulacro a chama verdadeira
Errando chegou a um prado onde
A sombra nos olhos se adensava
Das virgens como
A tarde ao pé das oliveiras;
Destilavam os ramos
Uma preguiçosa chuva de dardos,
Aqui ovelhas haviam dormitado
Sob o liso tepor,
Desfolhavam outras
A alfombra luminosa;
Eram as mãos do pastor vidros
Polidos de uma débil febre.
(Trad. Dora F. da Silva)